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Manaira e Bebel no Infolide
Por detrás do sucesso de eventos como o Infolide, existe sempre um trabalho – muitas vezes invisível aos olhos do público – que é imprescindível para garantir que tudo corra sem problemas. E qualquer pessoa que já tenha trabalhado minimamente em eventos pode confirmar que isso é praticamente impossível. A quantidade de detalhes, de variáveis não controláveis, se as quisermos chamar assim, é enorme, quase assustadora, e não é para qualquer um conseguir ter a destreza, criatividade, serenidade e sabedoria para contornar os mais variados obstáculos.
Fazer eventos parece fácil, mas acreditem, não é. Se não for por gosto – e até uma pitada de teimosia – , são raras as empresas de eventos que conseguem se afirmar num mercado tão competitivo quanto o de São Paulo. E, no seu próprio ritmo, a Mandacaru Design vai se consolidando como uma dessas empresas.
A Mandacaru Design foi fundada em 2005 pelas irmãs Manaíra e Bebel Abreu e hoje conta com uma equipe enxuta no design (Joana Velozo) e na produção (Letícia Marques e Fernanda Cruz). A rede de colaboradores é grande e varia conforme o tamanho e as características do projeto. A empresa produz design gráfico e eventos, “atendendo à demanda dos clientes e inventando seus próprios projetos”. Nosso primeiro contato foi na edição 2012 do Infolide, e desde então temos acompanhado o trabalho desta dupla dinâmica, irriquieta e multifacetada, culminando com o reencontro em São Paulo, no passado dia 30, no Infolide 2013. Tivemos então a oportunidade de fazer algumas perguntas à “meninas-Mandacaru” sobre o seu trabalho, as histórias mais marcantes e os projetos que vêm aí pela frente.
Visual Loop (VL)- São Paulo é vista como uma das principais cidades de eventos do mundo. Como vocês avaliam a situação do município, em termos de infraestrutura, política de apoios e incentivos para eventos de pequeno e médio porte?
Mandacaru Design (MD) – São Paulo certamente tem muitos eventos, em todas as áreas de cultura, esporte, educação e muitas outras – temos aqui excelentes auditórios, galerias e espaços para aulas. Falando especificamente dos eventos de treinamento e extensão, como as conferências, workshops e cursos, a política de apoios varia: a Mandacaru, por exemplo, já realizou vários Ciclos de Oficina com patrocínio, e gratuitos para o público, através de edital de ocupação da Caixa Cultural, mas promove também atividades com inscrições pagas, como o Infolide ou o ]tpc10[.
Também participamos por amor de iniciativas coletivas como o Bike Arte, em que Bebel deu uma oficina de caligrafia experimental.
VL – E o que poderia melhorar?
MD – Com uma boa curadoria é possível apresentar grandes profissionais e histórias interessantíssimas, tanto brasileiros como do exterior. O que pode melhorar ainda é a viabilização financeira destes eventos. Na esfera pública: quanto mais houver instituições culturais que se proponham a oferecer uma extensa e variada programação, melhor. Mecanismos de incentivo como editais também são muito bem vindos, embora sejam, muitas vezes, de uma burocracia desanimadora…
Por outro lado, em eventos com inscrição paga, é importante encontrar alternativas de viabilização além desta receita, como patrocínio direto ou venda de grupos. Tentamos ampliar a participação das empresas nestes eventos, incentivando a capacitação de seus funcionários nas conferências e workshops oferecidos, e também realizando atividades sob medida, dentro de suas instalações.
VL – E nesse cenário nasceu a Mandacaru Design! Contem-nos como surgiu essa ideia, e como tem sido essa jornada até agora.
MD – A Mandacaru nasceu em 2005, e ganhou uma sala há três anos, em Pinheiros. Nós temos duas linhas de trabalho: design gráfico, coordenada por Manaira, e produção de eventos e exposições, que tem à frente Bebel. O time conta ainda com a designer Joana Velozo, a produtora Letícia Marques e a arquiteta Fernanda Cruz.
O que nos moveu a criar o estúdio foi poder desenvolver projetos próprios e colaborar em outros que nos despertem interesse, geralmente na área das artes aplicadas: design gráfico, ilustração, caligrafia, tipografia e, mais recentemente, fotografia e quadrinhos – mas também atendemos clientes corporativos com a criação e execução de presentes, comunicação visual e design editorial.
Procuramos parceiros dinâmicos que tenham valores próximos aos nossos, como Ideafixa, Tipocracia e Ilustrativa. Nossos principais clientes são: Caixa Cultural, Editora Abril, Zac Imóveis e Momento Editorial, e também muitos clientes pontuais, que mesmo com eventos anuais, são relações bem longevas, como o próprio Infolide.
VL – Se tiver de escolher três momentos decisivos na vossa história, quais seriam eles?
MD – A exposição Pierre Mendell Cartazes, que nasceu da vontade de mostrar pros amigos o que Bebel viu em Munique – e isso rendeu cinco mostras no Brasil e uma na Argentina. A coleção de 60 cartazes culturais deste mestre alemão foi vista por mais de 50mil pessoas nesse tour latinoamericano, e deve ainda passear mais. Você pode ver o catálogo e a edição argentina aqui.
Macanudismo: quadrinhos, desenhos e pinturas de Liniers – a exposição que começou com um pedido de autógrafo foi a segunda mais vista na Caixa Cultural Rio de Janeiro, foi a Recife e segue para a terceira edição, rumo aos 100 mil visitantes, no Museu Nacional dos Correios, em Brasília. O artista estará presente, e a programação contará também com grandes nomes dos quadrinhos brasileiros, além de outras atividades. Saiba mais no site de exposição.
As Colheres de Bambu de Alvaro Abreu não são um momento, mas um longo trabalho em família, em que a filha caçula fotografa, a do meio produz, a mais velha cria e a esposa diagrama os painéis. Alvaro é pai das meninas-Mandacaru e faz colheres de bambu desde que sofreu um infarto, em 1994. De lá pra cá, já fez mais de 4 mil objetos e realizou exposições em diversas cidades do Brasil, Áustria e Alemanha, onde estiveram recentemente. 2014 promete: recebemos convites da Suíça e Holanda. Conheça a história do artista.
VL – Por trás de um evento de sucesso, existe uma multiplicidade de tarefas que precisam ser planejadas e executadas de forma perfeita para que tudo corra bem. Quais os eventos mais desafiadores que a Mandacaru já desenvolveu? E o que aprenderam com eles?
MD – A visão ampla do projeto como um todo é fundamental. Como começamos com a produção de exposições, aprendemos desde cedo a importância que cada parte tem no processo – não adianta ter uma bela apresentação se o conteúdo é ruim; não adianta ter um bom assunto se a divulgação for fraca; não adianta ter uma enorme propaganda se não puder atender à demanda. E por aí vai. E é preciso prestar atenção em cada detalhe sem perder a visão global, saber administrar as crises com serenidade e ter muita, muita paciência com a burocracia (essa é a parte mais difícil).
Em 2013 nosso maior cliente foi a ADG: fizemos a produção executiva da 10ª Bienal Brasileira de Design Gráfico. Foram 8 meses de trabalho cuidando principalmente da parte do conteúdo: Bebel foi o braço direito do coordenador, Bruno Porto, e com Henrique Nardi, diretor da associação, ambos trabalharam desde o regulamento ao sistema de inscrições e julgamento, em que mais de 1900 trabalhos foram avaliados por 80 jurados de 14 países.
Cuidamos do contato com os autores, demos apoio aos jurados, contratamos fornecedores e realizamos muitas outras funções, como a organização do julgamento presencial, em que mais de 700 trabalhos foram analisados em uma semana. Uma novidade pra nós foi que – ao contrário dos outros projetos que tocamos por aqui – a Mandacaru foi um dos grandes agentes – além do estúdio na produção, da ADG + Bruno Porto na direção, tivemos o prazer de trabalhar com a ps2 na identidade visual e a 32Bits nas soluções digitais.
Fora o stress do pouco tempo e pouco dinheiro, foi um trabalho que fluiu muito bem, em que todas as partes cooperaram e o resultado foi excepcional. Aliás, a ADG agora está numa força-tarefa para conseguir publicar o belíssimo Catálogo da Bienal – quer fazer parte? Veja aqui.
VL – Falando agora sobre o Infolide, um evento que vocês já vêm organizando há alguns anos. Como tem sido essa experiência junto ao mercado de design editorial e infografia?
MD – Estamos presentes no Infolide desde o primeiro número, em maior ou menor escala. Desde que o formato passou a ter convidados internacionais – e, por isso, a cobrar pelas inscrições – a Mandacaru assumiu a produção executiva de verdade. É um evento sem fins lucrativos, em que um board formado por quase dez jornalistas visuais de destaque no cenário brasileiro (<3) doa seu tempo livre ao propósito de disseminar o conhecimento e fortalecer a área.
Dá um orgulho muito grande fazer parte do time – e a edição mais recente, que aconteceu no fim de novembro (veja como foi em www.infolide.com), só reforçou isso. Vamos a muitos eventos relacionados ao design – e é frequente a frase de que “designer é a profissão do futuro” – um profissional que pensa, que soluciona, que apresenta a melhor solução. O designer editorial tem essa nobilíssima função de ajudar a contar uma história – e nos tempos em que a comunicação é tão absurdamente presente no nosso modo de vida, ele se torna personagem fundamental.
O infografista ganha cada vez mais espaço, porque ele otimiza a mensagem e possibilita uma visualização de dados de diversas maneiras – como você brilhantemente resumiu na excelente cobertura que fez do Infolide.
VL – Obrigado! E, para fechar, o que podemos esperar aí pela frente, da Mandacaru Design?
MD – Fecharemos o ano com a inauguração da exposição Macanudismo dia 11/12 em Brasília, com a presença de Liniers e show do argentino Cheba Massolo. Dia 12 teremos una tarde porteña com o artista na Ilustrativa, e mais tarde uma palestra com ele no Museu Nacional dos Correios.
A programação volta em fevereiro com Rafael Coutinho, Gustavo Duarte, Rafael Sica, André Valente e Bebel Abreu, e a mostra se estende até o carnaval. Em março tem a Feira Plana, onde a BebelBooks marcará presença (aliás, a micro-editora estará presente no BazINDIE Natalino e no DiaTipo!), e provavelmente em maio lançaremos a coletânea ‘Aconteceu comigo – histórias vividas, escritas e ilustradas por Ale Kalko, Orlando Pedroso e Roberto Negreiros’.
Estamos aguardando o resultado de alguns editais e há projetos ainda em fase de captação, como o grande livro sobre Benicio e a mostra de infografia de Jaime Serra no Brasil. Deveremos levar as colheres mágicas de Alvaro Abreu para a Europa e possivelmente trazer a exposição de Liniers pra São Paulo. Isso fora as pessoas incríveis que chegam com projetos bacanas pra fazer junto.
Coisa boa não vai faltar em 2014!
VL – Com certeza! Obrigado Bebel e Manaíra, e uma vez mais parabéns pelo Infolide 2013 e pelo vosso trabalho!
MD – Obrigado!
Agradecemos à Bebel e à Manaíra pela sua disponibilidade em responder as estas perguntas, mesmo no ritmo alucinante em que a Mandacaru navega pelo mundo do design. Não se esqueça de visitar o site, e acompanhar as atualizações no Facebook e no Twitter.
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